A ideia do que seria o conceito de Building Information Modeling (BIM) surgiu faz um bom tempo, não como o BIM que conhecemos atualmente. Em 1974, pelas mentes do professor Charles Eastman e estudiosos do Instituto de Tecnologia da Georgia, surgiu o conceito de “Building Description System” ou BDS.
“O sistema BDS foi iniciado para mostrar que uma descrição baseada em computador de um edifício poderia replicar ou melhorar todos os pontos fortes de desenhos como um meio para a elaboração de projeto, construção e operação, bem como eliminar a maioria de suas fraquezas. ”. Eastman et al. 1974
A teoria do BDS foi sendo alterada e aperfeiçoada para o que hoje conhecemos como BIM, mas o termo Building Information Modeling foi utilizado pela primeira vez em 1992 pelos estudiosos G.A. Van Nederveen e F.P. Tolman. Porém, só foi dada atenção para esse termo em 2002, quando foi citado em um artigo da Autodesk.
A partir desse ponto a ideia começou a ser cada vez mais disseminada nos mais diversos países. Cada país teve uma evolução diferente nesse sentido. No Reino Unido, em 2011, foi criada a Estratégia de Construção do Governo do Reino Unido com o objetivo de incentivar a implementação do BIM. Em Singapura, o processo começou pelo governo em 2008 implementando o primeiro Sistema de Aprovação em Órgãos Públicos através de modelos BIM. Nos Estados Unidos, em 2003, já havia um programa nacional denominado 3D-4D-BIM Program, e em 2006 o uso do BIM era obrigatório em todos os projetos.
No Brasil houveram algumas iniciativas isoladas de Órgãos e empresas privadas no começo dos anos 2000. Como exemplo, em 2006, a Diretoria de Obras do Exército iniciou a implementação do BIM. Em 2010 foi lançada a biblioteca BIM pela ABDI para projetos Minha Casa Minha Vida. Em 2012 a sede da Petrobrás em Santos iniciou a implementação de BIM. Em 2013 houve a exigência de projetos de Aeroportos com o uso de BIM.
Depois de um tempo começaram a ser arquitetadas as iniciativas por estados. O Governo de Santa Catarina, em 2013, criou o LaBIM-SC. Posteriormente, em 2015, fundou-se a aliança entre os estados de Santa Catarina e Paraná para a criação da Rede BIM Gov Sul. Também em 2015 os projetos da Arena das Dunas e Arena Amazônia no Estado do Amazonas foram desenvolvidos em BIM.
Em âmbito federal, iniciamos com a assinatura do Memorandum Of Understanding (ou MOU), em 2016, pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Ministro Marcos Pereira) e Ministro Liam Fox do Reino Unido. O MOU estabelece a cooperação entre o Brasil e o Reino Unido “(…) para apoiar a iniciativa de desenvolvimento de uma estratégia para implantação e disseminação do BIM no Brasil.”. Ainda em 2016, a Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) publicou a Coletânea Implementação do BIM para Construtoras e Incorporadoras, na qual constam conceitos técnicos relativos ao BIM e instruções de implementação para construtoras e incorporadoras.
O Decreto Federal n.º 9.377 foi publicado em 2017 que institui a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modeling – Estratégia BIM BR. Esse decreto foi revogado posteriormente pelo Decreto Federal n.º 9.983 que “Dispõe sobre a Estratégia Nacional de Disseminação do Building Information Modeling e institui o Comitê Gestor da Estratégia do Building Information Modeling”.
Resumidamente esse decreto tem como objetivo promover investimento no BIM e difundir essa ideia nacionalmente. Nesse decreto foram definidos objetivos para a Estratégia BIM BR, instituído o comitê gestor dessa estratégia assim como as atribuições deste comitê e os seus representantes e um Grupo Técnico para auxilio deste comitê. Este decreto tem também como objetivo disseminar o desenvolvimento de normas técnicas, guias e protocolos específicos para adoção do BIM. O desenvolvimento de normas e a regulamentação é muito importante quando se trata da credibilidade e respaldo técnico em uma implementação.
Em 2020, foi publicado o Decreto Federal n.º 10.306, e esse decreto institui que obras e serviços de engenharia de órgãos públicos federais deverão utilizar BIM com o apoio do decreto que vimos antes (o n.º 9.833). Resumidamente este decreto:
- Institui que o BIM deverá ser implementado de forma gradual;
- Ministério da Defesa e Ministério da Infraestrutura foram os primeiros vinculados às ações de disseminação do BIM;
- Definições de BIM;
- Três fases de implementação. A primeira deverá ser cumprida a partir de 2021 e determina basicamente a “modelagem inteligente”, extração de quantitativos. A segunda fase deverá ocorrer a partir de 2024 e deverá abranger, além das metas da primeira fase, o uso do BIM para planejamento, orçamentação e controle de obras. A terceira fase, que deverá ocorrer a partir de 2028 deverá abranger primeira e segunda fase e também o gerenciamento e manutenção (Facilities Management).
Existe um ponto desde decreto que indica também que os contratos exigirão a utilização do BIM para “(…) execução de programas, projetos e atividades de interesse recíproco.”.
Ainda falando do Brasil, existe mais uma legislação importante: Lei Federal nº 14.133, publicada em 2021. Basicamente essa lei é complementada com o fato de que as licitações terão uma preferência de escolha das empresas que utilizarem a metodologia BIM para o desenvolvimento dos serviços prestados.
Falamos bastante sobre o Brasil, e agora vamos ao Paraná. Os governos estaduais no geral possuem as suas legislações e decretos internos, e eu vou citar algumas ocorrências interessantes que ocorreram no Paraná, algumas publicações e páginas interessantes para seguir.
Começamos pela criação do LaBIM em 2015. O LaBIM “foi criado como um ambiente de pesquisa e desenvolvimento com o objetivo de definir critérios, formatos, e padrões para contratação de projetos e obras públicas em BIM no âmbito da Secretaria de Infraestrutura e Logística do Paraná (SEIL/PR).”. Daí, em 2016 foi lançado o Portal BIM PARANÁ, com o objetivo de divulgar as ações do Governo do Estado do Paraná quando se fala de BIM.
Logo na sequência, em 2018, foi lançado o Caderno BIM PR. O Caderno BIM PR é uma coletânea de 11 cadernos e apresenta diretrizes para o desenvolvimento BIM em obras públicas e de acordo com a própria descrição: “(…) a finalidade deste documento é orientar e definir critérios mínimos para elaboração de projetos que utilizam as ferramentas BIM em seu desenvolvimento.”.
O Decreto Estadual n.º 3.080, que institui a Estratégia BIM PR, foi publicado em 2019, com o objetivo geral de instituir o uso do BIM em obras públicas até 2022. Indica os objetivos da Estratégia BIM PR, institui o CG-BIM(Comitê Gestor) e o Grupo Técnico, o GTEC-BIM, de auxílio para o CG-BIM. Nos objetivos estratégicos temos alguns pontos interessantes, reforçando por exemplo a elaboração de normas técnicas, ampliar a relação entre academia, empresas prestadoras de serviço e empresas de tecnologia, etc.
Em 2020 foi publicado o Plano de Implantação BIM, desenvolvido pelo Paranacidade, que é membro técnico do GTEC-BIM. O Paranacidade por sua vez tem o objetivo de “(…) orientar as ações necessárias para o alcance dos objetivos da Estratégia BIM PR na instituição.”, e a primeira ação tomada foi a elaboração do Plano de Implantação BIM, indicando projetos pilotos à serem desenvolvidos com o apoio do respectivo plano.
Mais recentemente, temos o Decreto Estadual n.º 10.086 de 2022, e o Paraná foi o primeiro estado a regulamentar a Lei Federal n.º 14.133. Então, é a regulamentação da lei de licitações federal, só que estadual, e na parte de definições já encontramos vários termos relacionados ao BIM: Coordenador BIM, Open BIM, BIM Manager, Plano de Execução BIM etc. Há também uma definição que em concursos para contratação de projetos será exigida “(…) a adoção preferencial da Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modeling – BIM) ou tecnologias e processos integrados similares ou mais avançados que venham a substituí-la, para entrega dos projetos a serem contratados.”.
Também são definidas três fases de implementação do BIM, iniciando em 2022 (1º fase) até 2025 (3ª fase), e abordam resoluções semelhantes ao Decreto Federal: primeiro um foco na modelagem, depois execução e fiscalização de obras e para a terceira fase um pós-obra/Facilities Management.
Nacionalmente as iniciativas são mais recentes, iniciando em 2016, mas a partir dessa iniciativa federal, os estados começaram a aderir e a quantidade de publicações e decretos aumentou. Temos um longo caminho ainda, claro, mas é importante que os passos continuem sendo dados no sentido da inovação.